fARMÁCIA COMUNITÁRIA
Testemunhos
Ser farmacêutica foi, desde
sempre, um sonho e a forma de me realizar profissionalmente. E, dentro da
profissão, a área da farmácia comunitária foi aquela que mais me desafiou e
estimulou em termos profissionais.
Isto terá naturalmente a ver com
as minhas características individuais, pois cada um de nós tem aptidões e
competências particulares, que o tornam mais apto para esta ou aquela área. A mim,
estimula-me diariamente a vertente assistencial, o contacto com o doente e com
os outros profissionais de saúde, bem como a possibilidade de convocar para a
minha prática diária uma multidisciplinariedade de conhecimentos e saberes.
Aliás, quando trabalhamos com doentes, a única forma de alcançar resultados
positivos e mais-valias para a saúde, é, justamente, tendo sempre presente esta
abordagem multidisciplinar e a intervenção concertada e conjunta de todos os
profissionais de saúde.
Atualmente sou proprietária e
Diretora Técnica da Farmácia Saúde, na Figueira da Foz, tendo o privilégio de
implementar todos os dias os meus princípios e modelos de exercício
profissional em farmácia comunitária. Entendo a farmácia comunitária como um
espaço de gestão e promoção da saúde, no sentido mais amplo. E é esta vertente
que me entusiasma, e me faz acreditar no farmacêutico como um dos
intervenientes chave, no sistema de saúde, para a obtenção de melhores
resultados em saúde.
A farmácia é, em muitos casos, o
primeiro recurso dos doentes aquando da emergência de um problema de saúde. E o
farmacêutico deverá estar preparado, e deter as competências necessárias, para
poder avaliar a queixa, dando-lhe o seguimento mais adequado. Por outro lado,
perante uma receita médica, o farmacêutico deverá ter sempre presente a sua
autonomia técnica e a responsabilidade individual no ato da dispensa,
funcionando como um verdadeiro gestor dos tratamentos do doente. É justamente
para este ponto que julgo devermos caminhar. Ninguém melhor que o farmacêutico
para integrar e gerir toda a informação que envolve os planos terapêuticos do
doente. E numa sociedade cada vez mais envelhecida, a intervenção do
farmacêutico na gestão da polimedicação, muitas vezes inapropriada, e na adesão
aos tratamentos, é de fulcral importância. Estou certa de que a aplicação
sistemática deste tipo de intervenção, assim como do acompanhamento
farmacoterapêutico de doentes idosos e doentes crónicos, da promoção da adesão
à terapêutica – um dos fatores mais relevantes dos fracos resultados em saúde,
especialmente na população idosa – se traduziria em valor acrescido para a
saúde do doente e das populações, gerando inevitáveis poupanças ao nível dos
gastos em saúde, não somente para o Estado como também para o cidadão.
Para tal, terá de haver uma
mudança profunda no paradigma de exercício da profissão. A atuação do
farmacêutico, enquanto profissional de saúde diferenciado, deverá acrescentar
valor aos cuidados prestados ao doente, pois é neste valor acrescentado que se
assegura o futuro da profissão.
A resposta à vossa última questão
– o perfil do candidato para esta área – decorre naturalmente de tudo o que
referi anteriormente. O farmacêutico comunitário deve, para além das suas
competências técnicas e científicas, dispor de um conjunto de outras
competências, hoje conhecidas por soft skills, que passam pela
capacidade de comunicação, com o doente e com os outros profissionais de saúde,
pela capacidade de sentir empatia por quem temos à nossa frente, bem como uma inegável
dedicação pela defesa da saúde dos seus doentes. Se queremos ser profissionais
de saúde, o que significa que queremos contribuir para o bem-estar e para uma
melhor saúde para os doentes e para os nossos concidadãos no geral, temos que
trabalhar arduamente. Na aquisição das competências necessárias, no nosso
desenvolvimento pessoal e na dedicação ao trabalho. Depois temos de defender e
lutar pelos nossos ideais, suficientemente abertos para integrar outras ideias,
resilientes perante as adversidades, mas firmes nas nossas convicções.